Enclausurado, eu, por minutos,
No que parecia a eternidade,
Visualizei, sei lá, uma existência,
Bem além, admito, da realidade.
A ausência real da luminosidade,
Fez brotar o prenúncio do acaso,
O transe antes sem expressividade,
Do nada passou a cobrar o prazo.
Na alcova sempre costumeira,
Atenuado e entregue ao leito,
Notei surgir bem sorrateira,
A imagem do mundo suspeito.
Desconhecida, pra mim, até então,
A nítida utopia quiçá melindrosa,
Revelava uma exótica imensidão,
Cativa, oscilante e muito tenebrosa.
Em movimento veloz e constante,
Cruzei intensos vales desiguais,
Rancor, preguiça e melancolia,
Meiguice, desejo e comensais.
Felicidade, idealismo e disposição,
Dúvida, erraticidade e isolamento,
Liberdade, harmonia e gratidão,
Frivolidade, dor e estarrecimento.
Surto permanente do inconsciente,
Que por vezes traçou meu destino,
Catalisador de idéias intermitentes,
Ensejou provocar o meu desatino.
Quando pensei a sensatez ter perdido,
E a loucura haver a mente devorada,
Fui abduzido pelo teu toque divino,
E com o doce olhar trouxe a alvorada.
Em meio anjo meu, a angústia e a alegria,
Tentei sorver o digno instante derradeiro,
No liame do retorno ao mundo material,
No revés do oblíquo universo do barqueiro.
Só então, grato ao teu ato nobre e rotineiro,
Soube ver teu clássico semblante celestial,
E descobrir, bem mais uma vez, alvissareiro,
O meu amor eterno, fagueiro, singelo e ideal.
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